Rubem Alves - Psicanalista, educador, teólogo, escritor
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
Ostra Feliz não faz Pérola
Rubem Alves - Psicanalista, educador, teólogo, escritor
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Divorcio e Separação Litigiosa: Seus efeitos e riscos para as crianças
Escrito por René Schubert
“Ao dar a vida aos filhos […] os pais dão-lhes, com a vida, a si mesmos, tais como são, sem acréscimo e sem exclusão. E por esta razão os filhos […] não somente têm os seus pais, mas eles são seus pais.” Bert Hellinger
“Quando uma mulher separa filho do pai, retira-lhe seu futuro” Sophie Hellinger
Estudando as Constelações Familiares compreendemos que uma criança integra um sistema maior, pois geralmente foi gerada a partir da semente do pai e da mãe e, mesmo desconhecendo seus pais, a criança é fruto da concepção. O pai da criança, assim como este, veio de um pai e uma mãe. A mãe desta criança, assim como esta, veio de uma mãe e um pai. E assim temos uma cadeia ancestral de Bisavôs, Avôs, Pais, Filhos, Netos, Bisnetos. Um sistema interconectado pelo sangue e cultura.
Dentro de uma criança estão integrados pai e mãe. Masculino e feminino. Em uma ação de guarda, de litígio, a briga entre pai e mãe atingem esta integração interna que a criança possui. A criança se vê tendo de escolher um em detrimento de outro ou, muitas vezes, atingir e denegrir um em detrimento do outro – internamente ela também é atingida, pois sua lealdade ao pai, lealdade a mãe entram em conflito e começam a fragmentar-se. O casal se fere mutuamente e, sem perceber, ferem de maneira muito profunda ao fruto de seu amor, a filiação concebida.
Mas, em momentos de conflito e briga, a raiva, o ódio, a mágoa, a vingança cega os pais da criança a ponto de não perceberem o que acontece, num plano mais profundo. Querem equilibrar de seu ponto de vista o que foi lesado ou tirado. Emocionalmente fragilizados e buscando uma compensação exigem bens materiais, insistem no conflito, levam adiante uma briga pela guarda das crianças, denigrem mutuamente a imagem de pai e mãe, mantêm as feridas emocionais abertas e atualizam o conflito.
“Tudo o que o homem e a mulher admiram e amam em si mesmos e no parceiro, também admiram e amam nos filhos. E tudo que os irrita e incomoda em si mesmos e no parceiro, também os irrita e incomoda no filho.” Bert Hellinger
Em artigo pelo Portal Raízes há a colocação de como a cabeça da criança fica “bagunçada” com a separação dos pais. Como isto a afeta emocional, social, e psicossomaticamente. O divórcio pode fazer, entre outros, com que a criança se sinta dividida e até mesmo culpada pela separação – tal traz prejuízos na área escolar, afetiva e pode apresentar-se no comportamento agressivo, depressivo e ansioso da criança.
A advogada e facilitadora Ana Carolina Lisboa reflete: “Um processo de separação seja jurídico ou sentimental nunca é superficial. Naquele momento se vive o luto de uma pessoa viva. Se mexe com a sobrevivência de uma família, com crenças, expectativas e frustrações.”
Em texto escrito por Allyne Lima temos: “Os filhos possuem características físicas, emocionais/comportamentais do pai e da mãe. Então, ao excluir uma dessas marcas, tiramos o direito de existir, pois excluímos parte de sua origem/existência. Assim, o filho perde a força.Muitos casais, divorciados ou não, iniciam intrigas por conta dessa não aceitação da representatividade do outro nos próprios filhos, negando o próprio filho. Há então, um incômodo em se ver “misturado” a outro ser na imagem refletida no filho. Há ainda, um julgamento de certo e errado, bom ou ruim”. Tal é também colocado pelo psicoterapeuta espanhol Joan Garriga: “Quando os pais não conseguem demonstrar apreço um pelo outro, isto gera muitos conflitos, porque o filho os ama e busca formas de lealdade com ambos. Às vezes o filho despreza um, para agradar ao outro, mas no final ele pode acabar se tornando o objeto desprezado.
Na reflexão feita pelo Juiz de Direito, Dr.Sami Storch: “A família permanecerá dividida e embora as leis tenham sido aplicadas, o caso não está realmente resolvido, a decisão trouxe uma resolução, mas não uma solução de paz para o conflito. A lealdade do filho a ambos os pais transforma essa situação em um grande risco para seu bem-estar e desenvolvimento. Uma ofensa do pai contra a mãe, ou da mãe contra o pai, são sentidas pelos filhos como se estes fossem as vítimas dos ataques, mesmo que não se deem conta disso. Sim, porque sistemicamente os filhos são profundamente vinculados a ambos os pais biológicos. São constituídos por eles, por meio deles receberam a vida.Por isso é que, mesmo que o filho manifeste uma rejeição ao pai – porque este abandonou a família ou porque não paga pensão, por exemplo – toda essa rejeição se volta contra ele mesmo, inconscientemente. Qualquer ofensa ou julgamento de um dos pais contra o outro alimenta essa dinâmica, prejudicial sobretudo aos filhos.”
A psicanalista Claudiane Taveres aponta como em sua experiência clínica tem observado o quanto os divórcios “mal feitos” se tornam traumáticos para os filhos: “A situação se torna insustentável para os filhos quando os pais se divorciam e continuam em conflito (..) As agressões verbais, físicas podem deixar os filhos assustados, com medo e inseguros. Desenvolvem, além do trauma, sentimento de culpa (..) Quando há conflito entre os pais o resultado é sempre o sofrimento e a indecisão dos filhos. Crianças são frágeis, indefesas demais para lidar com tais conflitos(..) passam a ocupar o lugar de mensageiros de toda a dor, tristeza e melancolia de seus pais (..) Quando os pais “forçam” os filhos a tomar partido e respeitar apenas um dos seus genitores, a criança carregará uma profunda tristeza e a sensação vazio na alma (..) Na fase dos 4 aos 12 anos da criança o divórcio dos pais tem um grande impacto em seu mundo infantil, causando uma desorientação e despedaçamento.”
A advogada e facilitadora Bianca Pizzatto de Carvalho define desta maneira as lealdades parentais invisíveis: “É a fidelidade que os filhos, mesmo adultos, tem com seus pais. Uma criança aprende o significado das coisas a partir do que recebe de informações de sua família, seja por palavras ou modelos de comportamentos”. A criança vai ser moldada desta forma, pelo que lhe é direcionado, direta ou indiretamente, pelos padrões de comportamentos e de crenças dos pais, pela cultura e clima comum à casa, falas, expressões e olhares. Estes padrões repetitivos fazem com que a criança entre em uma atmosfera típica de sua família e casa. Como em um transe. E ela tomará este transe como natural e cotidiano. Assumirá postura e papeis, muitas vezes inconscientemente, por modelagem, por imitação, por lealdade, por amor aos pais”.
Corroborando com esta pensamento temos: “Um dos panos de fundo que trazem dificuldade às crianças é achar que são capazes ou que é permitido a elas assumir algo pelos seus pais ou antepassados. Isso gera infinitos problemas para os filhos e seus pais” Bert Hellinger.
A advogada e mediadora, Ana Paula Gimenez pontua: “segundo a psicologia, quem mais sofre são os filhos neste processo, já que perdem a estrutura familiar, importante para seu desenvolvimento emocional, físico e psíquico. Eles podem demonstrar um profundo sentimento de solidão e sentirem-se abandonados durante o processo do divórcio dos pais (..) Ocorre o medo de perder o contato com um deles, e outras vezes, existem crianças que chegam a ser sentir culpadas pelo rompimento. Para minimizar esta dinâmica e harmonizar as relações familiares, deve haver uma diferenciação do casal conjugal para o casal parental. Independentemente do tipo de guarda estabelecida, ambos continuam a exercer o Poder Familiar. Não existem ex-filhos e ex-pais. As relações entre pais e filhos continuam intactas após a separação do casal. O ideal seria que todos entendessem isto e colocassem o menor em primeiro lugar, não levando as frustrações e mágoas de uma relação amorosa, de encontro aos seus filhos.”
E, complementando estas reflexões temos o desenvolvimento por Bert Hellinger do conceito de movimento primário interrompido em direção à mãe ou ao pai. Ele aponta que, havendo a impossibilidade de contato com os pais, quanto mais jovem é a criança, mais o amor se transforma em dor, como outro lado do amor. A dor desta separação, afastamento, por qual motivo justo for, devido à incompreensão e registro traumático feito pelo e no corpo infantil, é tamanha que para a mesma torna-se difícil mais tarde aproximar-se novamente. A criança escolhe o isolamento. Se protege por detrás de muros e resistências psíquicas. Torna-se reativa, defensiva. Ao invés de amor, sente raiva, desespero, dor da perda. Não consegue sustentar a proximidade e trocas. Isto gera um misto de angústia, ambivalência, insegurança, sentimentos de inadequação e culpa. Podemos aqui levantar a possibilidade, de que algumas separações, por sua violência assim sentida pela criança, atuam sobre esta, consequentemente, como movimentos primários interrompidos.
Estas reflexões e citações são parte integrante do artigo escrito por René Schubert: “Percursos por uma separação”, para o livro: “Práticas Sistêmicas na Solução de Conflitos: Estudo de Casos”. Editora Leader, Coordenação por Daniele Cristine Andrade Précoma & Andreia Roma, São Paulo, 2020.
Publicado em Junho de 2024 em Portugal pelo site Mirada Sistêmica: Olhares e reflexões sobre a separação litigiosa de casal e seus efeitos sobre a criança - https://miradasistemica.com/pt/blog/olhares-e-reflexoes-sobre-a-separacao-litigiosa-de-casal-e-seus-efeitos-sobre-a-crianca/
Referências Bibliográficas:
Gimenez, A.P. – Mediação contribui para definição rápida e pacífica da guarda dos filhos – Revista Consultor Jurídico, maio 2015
Garriga, J. O amor que nos faz bem: quando um e um somam mais que dois. Ed. Planeta, 2014
Hellinger, S. – A própria Felicidade – fundamentos para constelação familiar. Tagore Ed., 2019
Hellinger, B. – Olhando para alma das crianças. Ed. Atman, 2015
Hellinger, B. – Movimento Interrompido em direção à mãe e/ou ao pai. Postado em setembro 2018 (in) http://aconstelacaofamiliar.blogspot.com/2018/09/movimento-interrompido-em-direcao-mae.html
Portal Raízes – Falar mal de um dos pais para o filho é “crime de Alienação Parental” – março 2019
Quezada, F. e Roma, A. – Pensamento Sistêmico: Abordagem sistêmica aplicada ao direito. Ed.Leader, 2019
Schubert, R. – Constelação As Constelações Familiares aplicadas à Justiça – Agosto 2016 (in) https://direitosistemico.wordpress.com/2016/08/10/as-constelacoes-familiares-aplicadas-a-justica/
Schubert, R. – Constelação Familiar: Impressa no corpo, na alma, no destino. Reino Editorial, 2019.
Schubert, R. – Refletindo o encontro de casal. Coluna para o Jornal Zen, Ano 15, Nº 175, setembro 2019
Storch, S. – Direito sistêmico é uma luz no campo dos meios adequados de solução de conflitos – Revista Consultor Jurídico, junho 2018 (in) https://www.conjur.com.br/2018-jun-20/sami-storch-direito-sistemico-euma-luz-solucao-conflitos
Tavares, C. – Precisamos falar sobre o divórcio. Edição do Autor, 2019
sexta-feira, 11 de outubro de 2024
O Vazio em nós
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
Publicação sobre Acompanhamento Terapêutico (AT) na Inglaterra
Publicação internacional um artigo acerca do Acompanhamento Terapêutico.
"I've been working as an TA since 2001, having learnt this therapeutic strategy and posture within the psychiatric clinic from supervising psychiatrists and psychoanalysts. It's a fantastic resource for office practice. Listening to the client in social environments, on the street, in the underground, in parks, exhibitions, the theatre, bars, restaurants, at home, creates other contours and possibilities for intervention. Talking happens while walking. Listening happens while doing. The city becomes a witness and a backdrop to the therapeutic process. With both child and adult clients, TA comes as a surprise, a welcome, proximity and contour. The weaving and building of safe, inclusive and continental spaces in the family and socio-cultural context for each subject, for each singularity." René Schubert
https://medicalandresearch.com/current_issue/2195
terça-feira, 8 de outubro de 2024
Quais intercâmbios você faz...conscientemente?
“Se tiver um pão e eu tiver um euro, e eu uso o meu euro para comprar o seu pão, no final da troca eu terei o pão e você o euro. Parece um equilíbrio perfeito, não? A tem um euro, B tem um pão; depois, A tem o pão e B o euro. É uma transação justa, mas meramente material.