quinta-feira, 21 de novembro de 2024

Cuidado com suas palavras e atitudes...





Seja cuidadoso nas suas relações

Quadrinhos elaborados por TUM ULIT


 "Cuidado com seus pensamentos, pois eles se tornam palavras.

Cuidado com suas palavras, pois elas se tornam ações.

Cuidado com suas ações, pois elas se tornam hábitos.

Cuidado com seus hábitos, pois eles se tornam o seu caráter.

E cuidado com seu caráter, pois ele se torna o seu destino."

Lao Tsu








quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Ostra Feliz não faz Pérola



 "Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da jardinagem, não começaria com as lições das pás, enxadas e tesouras de podar. Eu a levaria a passear por parques e jardins, mostraria flores e árvores, falaria sobre suas maravilhosas simetrias e perfumes; a levaria a uma livraria para que ela visse, nos livros de arte, jardins de outras partes do mundo. Aí, seduzida pela beleza dos jardins, ela me pediria para ensinar-lhe as lições das pás, enxadas e tesouras de podar.


Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe falaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.

Se fosse ensinar a uma criança a arte da leitura, não começaria com as letras e as sílabas. Simplesmente leria as estórias mais fascinantes que a fariam entrar no mundo encantado da fantasia. Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela desejaria que eu lhe ensinasse o segredo que transforma letras e sílabas em estórias.

É muito simples. O mundo de cada pessoa é muito pequeno. Os livros são a porta para um mundo grande. Pela leitura vivemos experiências que não foram nossas e então elas passam a ser nossas. Lemos a estória de um grande amor e experimentamos as alegrias e dores de um grande amor. Lemos estórias de batalhas e nos tornamos guerreiros de espada na mão, sem os perigos das batalhas de verdade. Viajamos para o passado e nos tornamos contemporâneos dos dinossauros. Viajamos para o futuro e nos transportamos para mundos que não existem ainda.

Lemos as biografias de pessoas extraordinárias que lutaram por causas bonitas e nos tornamos seus companheiros de lutas. Lendo, fazemos turismo sem sair do lugar. E isso é muito bom."


Rubem Alves - Psicanalista, educador, teólogo, escritor

terça-feira, 15 de outubro de 2024

Divorcio e Separação Litigiosa: Seus efeitos e riscos para as crianças

Escrito por René Schubert









Ao dar a vida aos filhos […] os pais dão-lhes, com a vida, a si mesmos, tais como são, sem acréscimo e sem exclusão. E por esta razão os filhos […] não somente têm os seus pais, mas eles são seus pais.” Bert Hellinger

Quando uma mulher separa filho do pai, retira-lhe seu futuro” Sophie Hellinger

Estudando as Constelações Familiares compreendemos que uma criança integra um sistema maior, pois geralmente foi gerada a partir da semente do pai e da mãe e, mesmo desconhecendo seus pais, a criança é fruto da concepção. O pai da criança, assim como este, veio de um pai e uma mãe. A mãe desta criança, assim como esta, veio de uma mãe e um pai. E assim temos uma cadeia ancestral de Bisavôs, Avôs, Pais, Filhos, Netos, Bisnetos. Um sistema interconectado pelo sangue e cultura.

Dentro de uma criança estão integrados pai e mãe. Masculino e feminino. Em uma ação de guarda, de litígio, a briga entre pai e mãe atingem esta integração interna que a criança possui. A criança se vê tendo de escolher um em detrimento de outro ou, muitas vezes, atingir e denegrir um em detrimento do outro – internamente ela também é atingida, pois sua lealdade ao pai, lealdade a mãe entram em conflito e começam a fragmentar-se. O casal se fere mutuamente e, sem perceber, ferem de maneira muito profunda ao fruto de seu amor, a filiação concebida.

Mas, em momentos de conflito e briga, a raiva, o ódio, a mágoa, a vingança cega os pais da criança a ponto de não perceberem o que acontece, num plano mais profundo. Querem equilibrar de seu ponto de vista o que foi lesado ou tirado. Emocionalmente fragilizados e buscando uma compensação exigem bens materiais, insistem no conflito, levam adiante uma briga pela guarda das crianças, denigrem mutuamente a imagem de pai e mãe, mantêm as feridas emocionais abertas e atualizam o conflito.

Tudo o que o homem e a mulher admiram e amam em si mesmos e no parceiro, também admiram e amam nos filhos. E tudo que os irrita e incomoda em si mesmos e no parceiro, também os irrita e incomoda no filho.” Bert Hellinger

Em artigo pelo Portal Raízes há a colocação de como a cabeça da criança fica “bagunçada” com a separação dos pais. Como isto a afeta emocional, social, e psicossomaticamente. O divórcio pode fazer, entre outros, com que a criança se sinta dividida e até mesmo culpada pela separação – tal traz prejuízos na área escolar, afetiva e pode apresentar-se no comportamento agressivo, depressivo e ansioso da criança.

A advogada e facilitadora Ana Carolina Lisboa reflete: “Um processo de separação seja jurídico ou sentimental nunca é superficial. Naquele momento se vive o luto de uma pessoa viva. Se mexe com a sobrevivência de uma família, com crenças, expectativas e frustrações.”

Em texto escrito por Allyne Lima temos: “Os filhos possuem características físicas, emocionais/comportamentais do pai e da mãe. Então, ao excluir uma dessas marcas, tiramos o direito de existir, pois excluímos parte de sua origem/existência. Assim, o filho perde a força.Muitos casais, divorciados ou não, iniciam intrigas por conta dessa não aceitação da representatividade do outro nos próprios filhos, negando o próprio filho. Há então, um incômodo em se ver “misturado” a outro ser na imagem refletida no filho. Há ainda, um julgamento de certo e errado, bom ou ruim”. Tal é também colocado pelo psicoterapeuta espanhol Joan Garriga“Quando os pais não conseguem demonstrar apreço um pelo outro, isto gera muitos conflitos, porque o filho os ama e busca formas de lealdade com ambos. Às vezes o filho despreza um, para agradar ao outro, mas no final ele pode acabar se tornando o objeto desprezado.

Na reflexão feita pelo Juiz de Direito, Dr.Sami Storch“A família permanecerá dividida e embora as leis tenham sido aplicadas, o caso não está realmente resolvido, a decisão trouxe uma resolução, mas não uma solução de paz para o conflito. A lealdade do filho a ambos os pais transforma essa situação em um grande risco para seu bem-estar e desenvolvimento. Uma ofensa do pai contra a mãe, ou da mãe contra o pai, são sentidas pelos filhos como se estes fossem as vítimas dos ataques, mesmo que não se deem conta disso. Sim, porque sistemicamente os filhos são profundamente vinculados a ambos os pais biológicos. São constituídos por eles, por meio deles receberam a vida.Por isso é que, mesmo que o filho manifeste uma rejeição ao pai – porque este abandonou a família ou porque não paga pensão, por exemplo – toda essa rejeição se volta contra ele mesmo, inconscientemente. Qualquer ofensa ou julgamento de um dos pais contra o outro alimenta essa dinâmica, prejudicial sobretudo aos filhos.”

A psicanalista Claudiane Taveres aponta como em sua experiência clínica tem observado o quanto os divórcios “mal feitos” se tornam traumáticos para os filhos: “A situação se torna insustentável para os filhos quando os pais se divorciam e continuam em conflito (..) As agressões verbais, físicas podem deixar os filhos assustados, com medo e inseguros. Desenvolvem, além do trauma, sentimento de culpa (..) Quando há conflito entre os pais o resultado é sempre o sofrimento e a indecisão dos filhos. Crianças são frágeis, indefesas demais para lidar com tais conflitos(..) passam a ocupar o lugar de mensageiros de toda a dor, tristeza e melancolia de seus pais (..) Quando os pais “forçam” os filhos a tomar partido e respeitar apenas um dos seus genitores, a criança carregará uma profunda tristeza e a sensação vazio na alma (..) Na fase dos 4 aos 12 anos da criança o divórcio dos pais tem um grande impacto em seu mundo infantil, causando uma desorientação e despedaçamento.”

A advogada e facilitadora Bianca Pizzatto de Carvalho define desta maneira as lealdades parentais invisíveis: “É a fidelidade que os filhos, mesmo adultos, tem com seus pais. Uma criança aprende o significado das coisas a partir do que recebe de informações de sua família, seja por palavras ou modelos de comportamentos”. A criança vai ser moldada desta forma, pelo que lhe é direcionado, direta ou indiretamente, pelos padrões de comportamentos e de crenças dos pais, pela cultura e clima comum à casa, falas, expressões e olhares. Estes padrões repetitivos fazem com que a criança entre em uma atmosfera típica de sua família e casa. Como em um transe. E ela tomará este transe como natural e cotidiano. Assumirá postura e papeis, muitas vezes inconscientemente, por modelagem, por imitação, por lealdade, por amor aos pais”.

Corroborando com esta pensamento temos: “Um dos panos de fundo que trazem dificuldade às crianças é achar que são capazes ou que é permitido a elas assumir algo pelos seus pais ou antepassados. Isso gera infinitos problemas para os filhos e seus pais” Bert Hellinger.

A advogada e mediadora, Ana Paula Gimenez pontua: “segundo a psicologia, quem mais sofre são os filhos neste processo, já que perdem a estrutura familiar, importante para seu desenvolvimento emocional, físico e psíquico. Eles podem demonstrar um profundo sentimento de solidão e sentirem-se abandonados durante o processo do divórcio dos pais (..) Ocorre o medo de perder o contato com um deles, e outras vezes, existem crianças que chegam a ser sentir culpadas pelo rompimento. Para minimizar esta dinâmica e harmonizar as relações familiares, deve haver uma diferenciação do casal conjugal para o casal parental. Independentemente do tipo de guarda estabelecida, ambos continuam a exercer o Poder Familiar. Não existem ex-filhos e ex-pais. As relações entre pais e filhos continuam intactas após a separação do casal. O ideal seria que todos entendessem isto e colocassem o menor em primeiro lugar, não levando as frustrações e mágoas de uma relação amorosa, de encontro aos seus filhos.”

E, complementando estas reflexões temos o desenvolvimento por Bert Hellinger do conceito de movimento primário interrompido em direção à mãe ou ao pai. Ele aponta que, havendo a impossibilidade de contato com os pais, quanto mais jovem é a criança, mais o amor se transforma em dor, como outro lado do amor. A dor desta separação, afastamento, por qual motivo justo for, devido à incompreensão e registro traumático feito pelo e no corpo infantil, é tamanha que para a mesma torna-se difícil mais tarde aproximar-se novamente. A criança escolhe o isolamento. Se protege por detrás de muros e resistências psíquicas. Torna-se reativa, defensiva. Ao invés de amor, sente raiva, desespero, dor da perda. Não consegue sustentar a proximidade e trocas. Isto gera um misto de angústia, ambivalência, insegurança, sentimentos de inadequação e culpa. Podemos aqui levantar a possibilidade, de que algumas separações, por sua violência assim sentida pela criança, atuam sobre esta, consequentemente, como movimentos primários interrompidos.


Estas reflexões e citações são parte integrante do artigo escrito por René Schubert: “Percursos por uma separação”, para o livro: “Práticas Sistêmicas na Solução de Conflitos: Estudo de Casos”. Editora Leader, Coordenação por Daniele Cristine Andrade Précoma & Andreia Roma, São Paulo, 2020.

Publicado em Junho de 2024 em Portugal pelo site Mirada Sistêmica: Olhares e reflexões sobre a separação litigiosa de casal e seus efeitos sobre a criança -  https://miradasistemica.com/pt/blog/olhares-e-reflexoes-sobre-a-separacao-litigiosa-de-casal-e-seus-efeitos-sobre-a-crianca/

Referências Bibliográficas:

Gimenez, A.P. – Mediação contribui para definição rápida e pacífica da guarda dos filhos – Revista Consultor Jurídico, maio 2015

Garriga, J. O amor que nos faz bem: quando um e um somam mais que dois. Ed. Planeta, 2014

Hellinger, S. – A própria Felicidade – fundamentos para constelação familiar. Tagore Ed., 2019

Hellinger, B. – Olhando para alma das crianças. Ed. Atman, 2015

Hellinger, B. – Movimento Interrompido em direção à mãe e/ou ao pai. Postado em setembro 2018 (in) http://aconstelacaofamiliar.blogspot.com/2018/09/movimento-interrompido-em-direcao-mae.html

Portal Raízes – Falar mal de um dos pais para o filho é “crime de Alienação Parental” – março 2019

Quezada, F. e Roma, A. – Pensamento Sistêmico: Abordagem sistêmica aplicada ao direito. Ed.Leader, 2019

Schubert, R. – Constelação As Constelações Familiares aplicadas à Justiça – Agosto 2016 (in) https://direitosistemico.wordpress.com/2016/08/10/as-constelacoes-familiares-aplicadas-a-justica/

Schubert, R. – Constelação Familiar: Impressa no corpo, na alma, no destino. Reino Editorial, 2019.

Schubert, R. – Refletindo o encontro de casal. Coluna para o Jornal Zen, Ano 15, Nº 175, setembro 2019

Storch, S. – Direito sistêmico é uma luz no campo dos meios adequados de solução de conflitos – Revista Consultor Jurídico, junho 2018 (in) https://www.conjur.com.br/2018-jun-20/sami-storch-direito-sistemico-euma-luz-solucao-conflitos

Tavares, C. – Precisamos falar sobre o divórcio. Edição do Autor, 2019

sexta-feira, 11 de outubro de 2024

O Vazio em nós


Muitos dos nossos excessos escondem vazios...






Nosso vazio emocional lembra que há algo que não conseguimos completar, algo que nos enche de instabilidade e frustração. Tentamos preencher esse vazio com excessos, ingerindo álcool, drogas (licitas e ilícitas), fazendo procedimentos clínicos , nos exaurindo na academia, comendo além da necessidade física - comendo emocionalmente, comprando de forma compulsiva, tentando dar conta de tudo e todos...mas a sensação de vazio e insuficiência depois de fazer estas coisas repetivamente, alienadamente, apenas se intensifica.




 

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

Publicação sobre Acompanhamento Terapêutico (AT) na Inglaterra


Publicação internacional um artigo acerca do Acompanhamento Terapêutico.

 "I've been working as an TA since 2001, having learnt this therapeutic strategy and posture within the psychiatric clinic from supervising psychiatrists and psychoanalysts. It's a fantastic resource for office practice. Listening to the client in social environments, on the street, in the underground, in parks, exhibitions, the theatre, bars, restaurants, at home, creates other contours and possibilities for intervention. Talking happens while walking. Listening happens while doing. The city becomes a witness and a backdrop to the therapeutic process. With both child and adult clients, TA comes as a surprise, a welcome, proximity and contour. The weaving and building of safe, inclusive and continental spaces in the family and socio-cultural context for each subject, for each singularity." René Schubert


Schubert, R. - Walking and Singing...Weaving Words, Experiences and Places Through Therapeutic Accompaniment

Medical and Research Publications

Journal of MAR Neurology, Neuro surgery and Psychology (2024) 8:4

https://medicalandresearch.com/current_issue/2195

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Quais intercâmbios você faz...conscientemente?

 “Se tiver um pão e eu tiver um euro, e eu uso o meu euro para comprar o seu pão, no final da troca eu terei o pão e você o euro. Parece um equilíbrio perfeito, não? A tem um euro, B tem um pão; depois, A tem o pão e B o euro. É uma transação justa, mas meramente material.

Agora, imagine que tem um soneto de Verlaine ou conhece o teorema de Pitágoras, e eu não tenho nada. Se me ensinar, no final dessa troca, eu terei aprendido o soneto e o teorema, mas você ainda os terá também. Nesse caso, não há apenas equilíbrio, mas crescimento.
No primeiro, trocamos mercadorias. No segundo, partilhamos conhecimento. E enquanto a mercadoria se consome, a cultura se expande infinitamente.”


Michel Serres
Filósofo Francês

terça-feira, 14 de maio de 2024

Sobre o aprisionamento do "ter certeza"





"Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas."

Rubem Alves - Religião e Repressão. São Paulo: Edições Loyola, 2005.