"O trabalho analítico acontece no espaço entre, onde o inconsciente se manifesta...para além da lógica racional.
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Ser visto, ser notado, ser tocado, ser...vivo
Historias dos asilos psiquiátricos
Em 1910, nas frias e cinzentas paredes de um asilo psiquiátrico na Alemanha, uma paciente chamada Katharina Detzel fez uma escolha silenciosa e desesperada. Isolada por anos, privada de contato humano e tratada como algo menos que gente, ela voltou-se para o único material que tinha à disposição — o feno de seu colchão — e com ele criou um homem de palha em tamanho real.
terça-feira, 16 de setembro de 2025
Legoterapia
O brinquedo de montar Lego como ferramenta conectiva na psicologia,
educação, consultoria, terapias...
Legoterapia é uma abordagem
terapêutica que utiliza peças de LEGO® como ferramenta para promover o
desenvolvimento de habilidades em crianças e adultos, especialmente aqueles com
transtornos do desenvolvimento ou dificuldades de aprendizagem. Esta
terapêutica estimula a interação social, a comunicação, a resolução de
problemas, a criatividade e a concentração, através de atividades estruturadas
ou livres com os blocos de montar.
O Brinquedo de montar LEGO® - O sistema LEGO é um brinquedo cujo
conceito se baseia em partes que se encaixam permitindo muitas combinações. Criado
pelo dinamarquês Ole Kirk Kristiansen, é fabricado em escala industrial em
plástico feito desde 1934, popularizando-se em todo o mundo desde então. É
muito famoso e as crianças do mundo todo brincam. Hoje em dia existem várias
séries. Em fevereiro de 2015, foi considerada a marca mais poderosa do mundo,
de acordo com estudo realizado pela empresa de consultoria Brand Finance.
A Legoterapia, ou Terapia Baseada
em LEGO, foi criada em Honolulu, no final dos anos 90, como uma alternativa de
tratamento para as crianças com atraso no desenvolvimento. É considerada método terapêutico que utiliza as peças de
LEGO para desenvolver competências sociais, emocionais e cognitivas em
crianças, especialmente aquelas com desenvolvimento atípico, como o autismo. O
objetivo é criar um ambiente estruturado e colaborativo onde as crianças
aprendam a se comunicar, a resolver problemas, a planejar e a interagir em
grupo, utilizando o brincar como ferramenta principal.
A abordagem da Legoterapia
baseia-se na ideia de que as crianças podem se comunicar e expressar seus
sentimentos, pensamentos e desafios por meio da construção e manipulação de
peças de LEGO. Isso permite uma forma não verbal de expressão, muitas vezes
menos intimidante do que a comunicação verbal direta. A terapia aproveita a
natureza lúdica e criativa do brinquedo de montar LEGO para criar um ambiente
seguro e facilitar a interação entre terapeuta e cliente.
Estudos educacionais e médicos no
Reino Unido e nos EUA constataram que grupos que usaram LEGO como recurso
educacional e terapeutico ajudaram seus alunos e pacientes a desenvolver e
reforçar as habilidades de jogo e habilidades sociais. Dentre os benefícios destacados
e comprovados da Legoterapia estão:
- Comunicação
- Atenção
- Concentração
- Partilha e troca
- Resolução de problemas compartilhada
Como colocado recentemente em
livro pelo psicoterapeuta René Schubert (2023): “o brinquedo LEGO com sua
diversidade de cenários, personagens e peças atua como recursos de consultoria,
coaching, atendimento terapêutico - sendo utilizado para: Exposição de
dificuldade, Resolução de Conflitos, Foco na Solução, Posicionamento
Consciente, Formas, Posturas e Comunicação e outras possibilidades a partir das
construções de cenários em 3D. Estimula a conexão, expressão, percepção,
insights, feedback, storytelling, ludicidade e criatividade - ou seja, Aprender
Divertindo-se!”
Por meio da brincadeira, intuição
e possibilidades diversas trabalha-se habilidades e recursos no grupo de
crianças, jovens ou adultos presentes, para que o mesmo possa ser levado
adiante para sala de aula, grupos de estudos, reuniões sociais, atendimentos e
consultoria.
A Legoterapia é indicada para:
- Crianças com transtornos do desenvolvimento, como autismo e TDAH;
- Crianças com dificuldades de aprendizagem;
- Pessoas que buscam aprimorar suas habilidades sociais e de comunicação;
- Indivíduos que desejam desenvolver a criatividade e a resolução de problemas;
- Profissionais da área da saúde e educação que buscam novas ferramentas terapêuticas e pedagógicas;
- Como recurso de consultoria e coaching;
- Apresentações, Reuniões, planejamento e estratégias em empresas;
A Legoterapia se mostra uma
abordagem terapêutica versátil e eficaz, oferecendo um ambiente lúdico e seguro
para o desenvolvimento de diversas habilidades.
Referências:
SCHUBERT, R - Construindo pontes, cenários e um mundo de
possibilidades – o uso do Lego como recurso terapêutico para crianças autistas
(in) Um Amor Azul – Os desafios e o caminho para lidar com a pessoa autista.
Coordenação de Neia Martins e Viviane Oliveira, Editora Conquista, São Paulo, 2023
SCHUBERT, R - Conectando e Construindo Possibilidades -
Brincar de Lego na Ludoterapia (in) Orientação Familiar, Volume 3. Coordenação
Cris Rayes. Literare International Books, São Paulo, 2024
SCHUBERT, R. - Building Bridges,
Scenarios, Worlds of Possibilities - The Use of Lego as a Therapeutic Resource
with Autistic Children. MAR Neurology, Neurosurgery & Psychology, United Kingdom, March 2024
Lego: a história por trás da
criação do popular brinquedo (2023) - https://www.bbc.com/portuguese/articles/clmeggy3l9xo
Lego como recurso terapêutico. Audiobook
(2025) - https://www.youtube.com/watch?v=o_SFGUptYsg
Terapia a partir do uso do
brinquedo LEGO (2022) - https://reneschubert.blogspot.com/2022/08/terapia-partir-do-uso-do-brinquedo-lego.html
quinta-feira, 4 de setembro de 2025
A importancia da figura paterna na psicologia
Na psicologia, a figura paterna é crucial para o desenvolvimento emocional, social e cognitivo de uma criança, promovendo segurança, independência e a introdução de limites e regras sociais. O pai, e por extensão outros cuidadores ( figura paterna ), estimula a exploração do mundo, o autoconhecimento e a formação do caráter, servindo como um modelo de conduta e referência para o desenvolvimento da identidade e da autoestima.
O pai, e por extensão outros cuidadores ( figura paterna ), estimula a exploração do mundo, o autoconhecimento e a formação do caráter, servindo como um modelo de conduta e referência para o desenvolvimento da identidade e da autoestima.
Segurança emocional – Pais presentes transmitem sensação de proteção, ajudando a criança a lidar melhor com medos, frustrações e desafios.
Construção da autoestima – O reconhecimento, incentivo e afeto paterno fortalecem a confiança e a percepção positiva que a criança tem de si mesma.
Modelos de relacionamento – A forma como o pai se relaciona com o(a) parceiro(a), com os filhos e com as pessoas ao redor serve de referência para como a criança aprenderá a se relacionar na vida adulta.
Saúde mental a longo prazo – Estudos mostram que filhos de pais participativos tendem a apresentar menor risco de depressão, ansiedade e dificuldades emocionais no futuro.segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Epidemia ( de empobrecimento) Cognitivo
"Vivemos uma epidemia cognitiva. Não é transmitida por vírus, mas pela passividade mental. A cada scroll no celular, a cada curtida automática, treinamos o cérebro para seguir a massa sem questionar. O resultado? Um declínio cognitivo coletivo, onde a falta de senso crítico vira norma e o pensamento independente se torna quase exótico.
domingo, 6 de julho de 2025
Palavras...
Elas parecem simples, mas carregam um impacto profundo. As palavras que usamos no dia a dia são capazes de moldar emoções, fortalecer (ou enfraquecer) vínculos, influenciar pensamentos e até transformar o funcionamento do nosso cérebro. Quando utilizamos a linguagem com consciência, criamos pontes capazes de promover bem-estar e conexão.
Desde os tempos antigos, a comunicação tem sido essencial para a evolução humana. Afinal, elas podem curar ou ferir, acolher ou afastar. A forma como nos expressamos impacta diretamente nossos sentimentos e a relação com o mundo. Aliás, seu poder é tão grande que ele é capaz de impactar o cérebro
Segundo o neurocientista Mariano Sigman, palavras positivas ativam áreas cerebrais ligadas à recompensa, como o córtex pré-frontal e o núcleo Accumbens – regiões associadas à motivação, tomada de decisões e prazer. Já as palavras negativas despertam a amígdala, centro emocional do medo e da ansiedade. É por isso que um elogio sincero pode nos impulsionar, enquanto uma crítica ríspida pode travar o progresso.
Nosso diálogo interno também é linguagem. Ele tem um peso enorme na construção da autoestima. Repetir frases como “não sou bom o suficiente” pode diminuir a autoconfiança ao longo do tempo. Já expressões como “estou me fortalecendo” e “estou em processo de aprendizado” criam narrativas mais saudáveis e encorajadoras.
As palavras de afirmação, quando repetidas com intenção, podem fazer toda a diferença. Exemplos simples, como “eu sou capaz”, “eu mereço coisas boas” ou “eu estou me desenvolvendo” têm efeitos diretos na redução de estresse, fortalecimento emocional e na qualidade das relações interpessoais.
Escolher bem as palavras também transforma relações. Em momentos de tensão, usar uma linguagem conciliadora pode evitar mal-entendidos e abrir espaço para diálogo. Feedbacks construtivos e empáticos têm efeitos muito mais duradouros do que críticas severas que só apontam falhas.
Além disso, é fundamental reconhecer o impacto social das palavras. Discursos de ódio, termos discriminatórios e ofensas contribuem para o sofrimento de grupos inteiros. Já a linguagem inclusiva e consciente pode criar espaços mais acolhedores e justos.
- Escolha o presente: diga “eu sou” em vez de “eu serei”, para trazer força ao agora;
- Seja específico: substitua o “eu sou bom” por “sou uma pessoa comprometida com o que faço”;
- Seja gentil com você: fale consigo como falaria com alguém que ama;
- Dê pausas antes de responder: pense no impacto emocional do que será dito;
- Cultive o hábito das palavras de afirmação: repita diariamente expressões positivas com convicção.
domingo, 22 de junho de 2025
Mitos e formas de se falar e enxergar o espectro autista
Autismo e Educação
- O autismo é uma doença:
- O autismo é uma condição do neurodesenvolvimento, não uma doença que possa ser curada.
- Autistas são todos iguais:
- O espectro autista é muito amplo, e cada indivíduo apresenta características e necessidades específicas.
- Autistas não têm sentimentos:
- Pessoas autistas podem ter dificuldades em expressar emoções, mas sentem e demonstram afeto de maneiras diferentes.
- Autistas são antissociais:
- Muitos autistas desejam interagir socialmente, mas podem ter dificuldades na comunicação e interação.
- Autistas são agressivos:
- A agressividade em alguns casos pode ser uma resposta à dificuldade de comunicação ou a ambientes desafiadores, não uma característica inerente ao autismo.
- Autistas têm inteligência acima da média:
- Nem todos os autistas possuem habilidades cognitivas superiores, e alguns podem apresentar dificuldades de aprendizado.
- Vacinas causam autismo:
- Não há evidências científicas que comprovem essa relação, segundo estudos científicos.
- Autismo é causado por falta de afeto:
- O autismo tem causas multifatoriais, incluindo fatores genéticos e ambientais, e não está relacionado à criação ou falta de amor.
- O autismo é um espectro:
- O transtorno do espectro autista (TEA) engloba uma variedade de características e níveis de suporte necessários.
- O diagnóstico precoce é importante:
- Quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo a pessoa com autismo pode receber intervenções e estímulos que podem melhorar seu desenvolvimento.
- Existem intervenções eficazes:
- Há diversas terapias e abordagens que podem ajudar pessoas autistas a desenvolver habilidades sociais, de comunicação e outras áreas importantes.
- A inclusão é fundamental:
- É importante que as pessoas com autismo sejam incluídas em ambientes sociais, educacionais e profissionais, com as adaptações e suportes necessários.
- Autismo é uma condição permanente:
- O autismo não tem cura, mas com intervenções adequadas, as pessoas podem ter uma boa qualidade de vida e desenvolver seu potencial.
- Pessoas autistas podem amar e ter empatia:
- Embora possam ter dificuldades em expressar suas emoções, pessoas autistas podem sentir e demonstrar afeto de maneiras diversas.
- O autismo pode afetar as funções executivas:
- Dificuldades em funções executivas como organização, planejamento e atenção podem impactar a vida da pessoa autista.
- O autismo não é uma doença mental:
- O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, que afeta a forma como o cérebro funciona e processa informações.
- É importante buscar informações confiáveis sobre o autismo em fontes como instituições de apoio, profissionais de saúde e literatura científica, para combater mitos e promover a conscientização e inclusão.
- O diagnóstico precoce é importante:
- Quanto mais cedo o diagnóstico, mais cedo a pessoa com autismo pode receber intervenções e estímulos que podem melhorar seu desenvolvimento.
- Existem intervenções eficazes:
- Há diversas terapias e abordagens que podem ajudar pessoas autistas a desenvolver habilidades sociais, de comunicação e outras áreas importantes.
- A inclusão é fundamental:
- É importante que as pessoas com autismo sejam incluídas em ambientes sociais, educacionais e profissionais, com as adaptações e suportes necessários.
- Autismo é uma condição permanente:
- O autismo não tem cura, mas com intervenções adequadas, as pessoas podem ter uma boa qualidade de vida e desenvolver seu potencial.
- Pessoas autistas podem amar e ter empatia:
- Embora possam ter dificuldades em expressar suas emoções, pessoas autistas podem sentir e demonstrar afeto de maneiras diversas.
- O autismo pode afetar as funções executivas:
- Dificuldades em funções executivas como organização, planejamento e atenção podem impactar a vida da pessoa autista.
- O autismo não é uma doença mental:
- O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento, que afeta a forma como o cérebro funciona e processa informações.
Menina fala sobre a perspectiva do Autismo para um Autista
terça-feira, 10 de junho de 2025
Saúde Mental e Psiquiatria
Cuidar da saúde mental vai muito além de tomar medicação ou “ter força de vontade”. Essa visão simplista ignora a complexidade do ser humano e dos transtornos mentais.
Embora os medicamentos e a psicoterapia sejam pilares essenciais do tratamento (National Institute of Mental Health [NIMH], 2023), eles não agem isoladamente. A prática clínica mostra que o sucesso terapêutico está profundamente relacionado ao estilo de vida do paciente — corpo, mente e ambiente estão interligados.
Hábitos saudáveis não são apenas um complemento: fazem parte ativa do cuidado em saúde mental. Dormir bem, alimentar-se de forma equilibrada, movimentar o corpo regularmente, ter momentos de lazer e cultivar vínculos afetivos e espaços de escuta emocional são atitudes que nutrem o cérebro e aumentam significativamente a eficácia dos tratamentos médicos e psicológicos (Firth et al., 2020; Jacka et al., 2017).
Mais do que aderir a um protocolo, é fundamental que o paciente se sinta protagonista do seu processo de cuidado. O comprometimento com pequenas ações cotidianas pode ter um grande impacto na jornada de recuperação (World Health Organization [WHO], 2022).
O melhor tratamento é aquele que une acompanhamento profissional qualificado com escolhas de vida que promovam bem-estar e sentido. Ignorar esses aspectos pode limitar os avanços. Por outro lado, integrá-los potencializa o caminho para uma vida com mais equilíbrio, autonomia e saúde mental duradoura.
Referências
-
Firth, J., Solmi, M., Wootton, R. E., Vancampfort, D., Schuch, F. B., Hoare, E., ... & Stubbs, B. (2020). A meta-review of "lifestyle psychiatry": The role of exercise, diet, and sleep in the prevention and treatment of mental disorders. World Psychiatry, 19(3), 360–380. https://doi.org/10.1002/wps.20773
-
Jacka, F. N., O'Neil, A., Opie, R., Itsiopoulos, C., Cotton, S., Mohebbi, M., ... & Berk, M. (2017). A randomised controlled trial of dietary improvement for adults with major depression (the ‘SMILES’ trial). BMC Medicine, 15(1), 23. https://doi.org/10.1186/s12916-017-0791-y
-
National Institute of Mental Health (NIMH). (2023). Mental Health Medications and Psychotherapy. https://www.nimh.nih.gov
-
World Health Organization (WHO). (2022). World Mental Health Report: Transforming mental health for all. https://www.who.int/publications/i/item/9789240049338
sexta-feira, 6 de junho de 2025
O que ainda resta?
RESTA…
"[…] Lembro-me da festa de aniversário para o meu pai, quando ele completou 60. Pelas aparências ele estava feliz: ele comia, bebia, ria, falava. Em silêncio eu o observava e pensava: “Como está velho…” Vieram-me à memória os versos de T. S. Eliot: “E eles dirão: ‘Seu cabelo, como está ralo!’ Meu casaco distinto, meu colarinho impecável, minha gravata elegante e discreta, confirmada por um alfinete solitário – mas eles dirão: ‘Seu braços e pernas, que finos que estão!'” Compreenderei se pessoas olharem para mim e pensarem pensamentos parecidos aos que pensei ao olhar o meu pai.
Comovo-me ao recordar-me do poema do Vinícius “O Haver”. É um poema crepuscular. Ele contempla o horizonte avermelhado, volta-se para trás e faz um inventário do que sobrou. Fiquei com vontade de fazer algo parecido, sabendo que não sou Vinícius, não sou poeta, nada sei sobre métrica e rimas. E eu começaria cada parágrafo com a mesma palavra com que ele começou suas estrofes: Resta…
Resta a luz do crepúsculo, essa mistura dilacerante de
beleza e tristeza. Antes que ele comece ao fim do dia o crepúsculo começa na
gente. O Miguelim menino já sentia assim: “O tempo não cabia. De manhã já era
noite…” Assim eu me sinto, um ser crepuscular. Um verso de Rilke me conta a
verdade sobre a vida: “Quem foi que assim nos fascinou para que tivéssemos um
ar de despedida em tudo o que fazemos?”
Restam os amigos. Quando tudo foi perdido, os amigos permanecem. Lembro-me da antiga canção de Carole King “You got a friend”: “Se você está triste, no fundo do abismo e tudo está dando errado, precisando de alguém que o ajude – feche os olhos e pense em mim. Logo logo estarei ao seu lado para iluminar a noite escura. Basta que você chame o meu nome… Você sabe que eu virei correndo pra ver você de novo. Inverno, primavera, verão ou outono, basta chamar que eu estarei ao seu lado. Você tem um amigo…” Eu tenho muitos amigos que continuam a gostar de mim a despeito de me conhecerem. E tenho também muitos amigos que nunca vi.
Resta a experiência de um tempo que passa cada vez mais depressa. “Tempus Fugit”. “Quando se vê já são seis horas. Quando se vê já é sexta-feira. Quando se vê já é Natal. Quando se vê já terminou o ano. Quando se vê não sabemos por onde andam nossos amigos. Quando se vê já passaram cinqüenta anos… ( Mario Quintana)
Resta um amor por nossa Terra, nossa morada, tão maltratada por pessoas que não a amam. Meu deus mora nas fontes, nos rios, nos mares, nas matas. Mora nos bichos grandes e nos bichos pequenos. Mora no vento, nas nuvens, na chuva. Eu poderia ter sido um jardineiro… Como não fui, tento fazer jardinagem como educador, ensinando às crianças, minhas amigas. o encanto pela natureza.
Resta um Rubem por vezes áspero, com quem luto permanentemente e que, freqüentemente, burlando a minha guarda, aflora no meu rosto e nas minhas palavras, machucando aqueles que amo.
Resta uma catedral em ruínas onde outrora moravam meus deuses. Agora ela está vazia. Meus deuses morreram. Suas cinzas, então, voaram ao vento.
Resta, na catedral vazia, a luz dos vitrais coloridos, o silêncio, o repicar dos sinos, o Canto Gregoriano, a música de Bach, de Beethoven, de Brahms, de Rachmaninoff, de Faure, de Ravel…
Resta ainda, nos pátios da catedral arruinada, a música do Jobim, do Chico, de Piazzola…
Resta uma pergunta para a qual não tenho resposta. Perguntaram-me se acredito em Deus. Respondi com versos do Chico: “Saudade é o revés do parto. É arrumar o quarto para o filho que já morreu.” Qual é a mãe que mais ama? A que arruma o quarto para o filho que vai voltar Ou a que arruma o quarto para o filho que não vai voltar? Sou um construtor de altares. É o meu jeito de arrumar o quarto. Construo meus altares à beira de um abismo escuro e silencioso. Eu os construo com poesia e música. Os fogos que neles acendo iluminam o meu rosto e me aquecem. Mas o abismo permanece escuro e silencioso.”
Resta uma criança que mora nesse corpo de velho e procura companheiros para brincar. De que é que a alma tem sede? “De qualquer coisa como tudo que foi a nossa infância. Dos brinquedos mortos, das tias idas. Essas coisas é que são a realidade, embora já morressem. Não há império que valha que por ele se parta uma boneca de criança” ( Bernardo Soares )
Resta um palhaço… Na véspera de minha volta ao Brasil a jovem ruiva sardenda entrou na minha sala e me disse: “Sonhei com você. Sonhei que você era um palhaço”. E sorriu. Tenho prazer em fazer os outros rirem com minhas palhacices. O que escrevo, freqüentemente, é um espetáculo de circo. Pois a vida não é um circo?
Resta uma ternura por tudo o que é fraco, do pássaro ao velho. Fui um adolescente fraco e amedrontado. Apanhei sem reagir. Cresceu então dentro de mim uma fera que dorme. Mas toda vez que vejo uma pessoa humilde e indefesa sendo humilhada por uma pessoa enfatuada, que se julga grande coisa, a fera acorda e ruge. Tenho medo dela.
Resta a minha fidelidade às minhas opiniões que teimo em tornar públicas, o que me tem valido muitas tristezas e sucessivos exílios. Mas sei que minhas opiniões, todas as opiniões, não passam de opiniões. Não são a verdade. Ninguém sabe o que é a verdade. Meu passado está cheio de certezas absolutas que ruíram com os meus deuses. Todas as pessoas que se julgam possuidoras da verdade se tornam inquisidoras. Por isso é preciso tolerância.
Resta uma tristeza de morrer. A vida é tão bonita. Não é medo. É tristeza mesmo. Lembro-me dos versos da Cecília que sentia a mesma coisa. “E fico a meditar se depois de muito navegar a algum lugar enfim de chegar. O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas e nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias. De longe o horizonte avisto, aproxima e sem recurso. Que pena a vida ser só isso…”
Resta um medo do morrer – aquelas coisas que vêm antes que ela chegue. Eu acho que as pessoas deveriam ter o direito, se quisessem, de dizer: “É hora de partir…” E partissem. Se Deus existe e se Deus é bondade não posso crer que Ele ( ou Ela ) nos tenha condenado ao sofrimento, como última frase da nossa sonata. A última frase deve ser bela.
Resta, quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros. Só se ouve o tic-tac… Só posso dizer: “Carpe Diem” – colha o dia como um fruto saboroso. É o que tento fazer."
Rubem Alves
Crônica “Resta”. livro ‘Pimentas: para
provocar um incêndio não é preciso fogo’. São Paulo: Editora Planeta, 2ª ed.,
2014.
sexta-feira, 28 de março de 2025
Construindo relacionamentos saudáveis
Construindo Relacionamentos Saudáveis
Como identificar os mitos dos relacionamentos e potencializar a felicidade
quarta-feira, 5 de março de 2025
Distimia
Não são poucas as pessoas que se queixam de mau humor, poliqueixosas, desmotivadas, se lamentando da vida, vendo sempre o aspecto negativo das coisas e relatando sempre sentir “preguiça”, desânimo e cansaço persistentes. Algumas podem apresentar um tipo especifico de Depressão: a Distimia.
Distimia é um transtorno psiquiátrico que se caracteriza por um mau humor constante, tristeza e falta de interesse nas atividades diárias. É também conhecida como depressão de longa duração ou transtorno depressivo persistente ou distúrbio do mau humor.
Durante muito tempo, a Distimia foi interpretada como um traço de personalidade, uma característica idiossincrática da pessoa e não uma Depressão propriamente dita. O problema da Distimia, é que este transtorno não é muito levado à sério, sendo confundido com características de pessoas ranzinzas, mal-educadas, mal-humoradas ou mesmo preguiçosas, procrastinadoras, que “vivem no mundo da lua”, não tendo “vontade” de fazer nada. Obviamente que pessoas com algumas destas características não são necessariamente distimicas.
Com relação à performance, pessoas que desenvolveram a Distimia, conseguem exercer suas atividades, mas com muito custo, com muita morosidade, sentindo muito cansaço, o que muitas vezes é confundida com a preguiça, principalmente em crianças desmotivadas com os estudos.
Sugestões de tratamento: Psicoterapia; Psicofarmacologia; Mudanças no estilo de vida; Intervenções psicossociais; Tratamentos complementares.













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